Por um mundo sem novidades
Uma jornada de tentar parar de me sobrecarregar e tentar me dedicar a alguma coisa nessa vida
Eu sou uma pessoa de datas. Chega fim do ano eu dou início a uma série de pequenos rituais (ritual, palavra da moda) que me ajudam a fazer um balanço do que fiz, o que quero para o futuro, faço até uma cartinha para eu mesma do final do ano seguinte. Esse balanço ainda vem por aqui, eu prometo. Mas vim aqui compartilhar com vocês a minha mais nova resolução de ano novo: não começar nenhum novo projeto.
Olha, eu sou quase uma filha do século XXI, eu quero fazer mais coisas que dou conta, sofro de FOMO, uso dois planners, trello, google keep, caderninho e post it pra tentar dar conta de tudo. Dou, do meu jeito, tem coisas que ficam impecáveis, coisas que ficam de qualquer jeito. Mas a questão é que eu sou viciada em começar coisas novas e isso está me enlouquecendo, esse semestre, que já tá quase no fim, acho que melhor falar esse trimestre, eu preciso: cursar minhas disciplinas do mestrado, fazer a disciplina da graduação, apoiar o curso de extensão do meu orientador, terminar o TCC das duas especializações que eu faço, terminar o curso de extensão que me matriculei, fazer estágio docente, cuidar das coisas da revista discente, fazer parte de todas as reuniões que tenho que fazer parte por conta da representação discente e da associação dos estudantes da pós, eu cuido sozinha da minha casa e do meu cachorro e ainda tô naquela de visitar todos os médicos, faço academia e vou na yoga, eu tento ver todos os maiores filmes de terror e analisar eles, além de todas as atribuições de ser militante de um partido político. UFA.
(os post its todos que estou tentando lidar)
E, só nessa semana, eu já quase iniciei mais coisas. E, por isso, eu resolvi que 2023 não vai ser um ano de começar coisas novas, uma rara tentativa de me preservar. Digo rara porque eu gosto mais de me punir do que de me cuidar, mas a gente ainda vai chegar nesse ponto. Tenho uma dissertação pra fazer e alguns prazos, parte daqueles compromissos ali de cima vai sumir, ainda tem as relações sociais, que exigem todo um cuidado, compromisso. Tenho falado pra todo mundo: quem chegar até 31 de dezembro chegou, quem não entrou na minha vida agora, só em 2024. Com pessoas é mais difícil delimitar quem vai chegar e quem vai ficar, mas projetos, não vou começar mais nenhum. Aprofundar, melhorar, aperfeiçoar, só isso.
Eu estou lendo um livro, muito bom por sinal, que fala da nossa relação com o tempo. O livro defende que gestão do tempo não existe, que o tempo é tipo a água para o peixe, a gente existe e pronto. Porque planejar não vai dar conta desse monte de atribuições que a gente tem na vida. Mas o ponto que me pegou é que ele fala que não vamos dar conta de tudo, tem um trecho até que é mais ou menos assim “pensa suas 20 maiores prioridades da vida” e aí ele conclui: só vai dar pra gente fazer umas 5. Mais do que números, não vai dar pra fazer tudo, sempre vamos estar não aproveitando alguma experiência.
E por isso quero começar o desafio de não começar nada novo, porque parece que a gente tem uma angústia existencial de viver com o que a gente já tem, parece que a resposta está sempre na falta, que não pode ser bom do jeito que já é. Não estou falando aqui de situações de pessoas que vivem sem o mínimo, água, luz, comida, não é para pegar a desigualdade social e transformar em gratidão. Estou falando de casos como o meu que estão sempre buscando respostas em outros lugares, e caçando novos compromissos como se fosse uma espécie de dívida a pagar. Por que a gente gosta de ter tantas coisas sem aprofundar? Por que se aprofundar é tão difícil? Bem, vou tentar dizer o que achei em um ano. Espero ver você por aqui.
Dicas da semana:
A série: Vale dos Esquecidos, que minha prima participou do roteiro (ainda não vi, mas confio 100%), tá lá na HBO Max
Compra uma água com gás aromatizada, só vai. Ou não, estou 100% viciada e não sei se é bom recomendar novos vícios por aqui
Reassisti para um trabalho O Carteiro e o Poeta (filme) que está todo disponível no YouTube, um filme lindo e de uma sensibilidade surreal
nossa, bateu forte aqui!
preciso urgentemente parar de começar coisas novas, meu deus do céu!